sexta-feira, 17 de junho de 2011

PERDER-SE E ENCONTRAR-SE: O SER EM ROTINA

Uma das maiores dificuldades do ser humano é a falta de percepção de si mesmo e do que está ao seu redor. Uma errata, “falta” não seria o termo mais apropriado, e sim, uma percepção mais coerente.

Ontem assisti a uma peça de teatro, um conjunto de seis histórias curtas. Uma delas falava de um casal que encontrava a programação do dia na cabeceira da cama. No início, pensaram que o fato de acordarem e terem um roteiro narrando o dia que estava por vir, só poderia significar uma tragédia. Não era nada disso, o script estava lá apenas para mostrar o quanto suas vidas haviam caído numa praxe, a ponto de só perceberem como agiam e falavam, depois de terem lido o tal roteiro.

Engraçado pensar que uma situação fictícia possa ser tão real. No entando, é! Acabamos nos envolvendo em rotinas alienantes e não atentamos que estamos nos perdendo de vista. Quantos de nós prestamos atenção na forma com que tomamos banho? Insignificante? É uma das ações do dia-a-dia que mais possui ritual, sempre a executamos, exatamente da mesma maneira. E quantas atitudes mais tomamos sem nos darmos conta?

Se não temos desenvolvido nossa auto-percepção, o que é que estamos transmitindo ao outro? Refiro-me aos nossos colegas de trabalho, de aula, a nossa família, amigos. Como nos comunicamos com o outro?

Antigamente pensava-se que para se comunicar com alguém bastava lhe falar ou escrever, ou apenas proferir uma ordem para que a mesma fosse cumprida. Na realidade, a comunicação está sujeita a distorções, deformações que fazem com que muitas vezes uma mensagem não seja recebida tal qual foi emitida. Há barreiras e ruídos que impedem a mensagem de chegar ao receptor. Muito sutis, por exemplo o egocentrismo, que no coibe de enxergar o ponto de vista do outro, nos compele também a rebater tudo que o outro diz, sem ao menos ouvir o que ele realmente está dizendo. Ou mesmo opiniões e atitudes do receptor que fazem como que ele ouça, ou leia o que lhe interesse, ou ouça a mensagem de modo que coincida com sua opinião. Nota-se que os maiores ruídos não são externos, mas internos. E quando me conheço, quando me percebo, quando me acesso, posso escutar o outro, ou pelo menos estar consciente de não estar desempenhando isso muito bem.

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